quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Quaresma



Iniciamos o período litúrgico denominado quaresmal. Tempo de penitência, de mudança de vida, apropriado a corrigir metas na nossa caminhada cristã no seguimento e na imitação de Jesus Cristo. O que fazer? O próprio Papa Bento XVI já nos deu um belíssimo exemplo com o seu gesto humano, livre, consciente e sábio, cristão, humilde e santo, em favor de um bem maior, da própria Igreja de que ele é o primeiro Servidor. Servus servorum Dei (Servo dos servos de Deus). Sua renúncia consciente e livre, surpreendente para muitos, deve levar a todos os cristãos, leigos, religiosos, diáconos, padres, (arce)bispos, cardeais, membros desta mesma Igreja, a uma séria reflexão profunda de como a estão servindo ou, quem sabe, servindo-se dela. A atitude de desapego, o gesto de desprendimento, faz parte do espírito de pobreza do verdadeiro cristão. Não seria melhor uma renúncia, semelhante à do Papa, em benefício do Corpo Místico de Cristo, a Igreja?

As leituras bíblicas que já estamos fazendo e as outras que ainda virão, nos ajudam e ajudarão a tomar as decisões que mais aprouver ao Reino, como já o fizemos na quarta-feira de cinzas, "pedindo a Deus converter-nos e mudar a nossa própria vida e nos renovar de espírito e coração". Isaías, em 58,1-12, já nos deu muitas dicas para uma séria renovação pessoal e São Clemente I, Papa, em sua carta aos Coríntios, nos recordou, com alguns textos bíblicos, um roteiro de vida, visando uma renovação cristã, a nossa conversão, pois Deus não quer a morte do pecador, mas que mude de conduta (cf. Ez 33,11); e acrescentou esta sentença cheia de bondade: "Deixa de praticar o mal, ó Casa de Israel! Dize aos filhos do meu povo: Ainda que vossos pecados subam da terra até o céu, ainda que sejam mais vermelhos que o escarlate e mais pretos que o cilício, se voltardes para mim de todo o coração e disserdes: 'Pai', eu vos tratarei como um povo santo e ouvirei as vossas súplicas" (cf. Is1,18;63,16;64,7; Jr 3,4;31,9). São Clemente nos aconselha a obedecer a vontade de Deus, implorando sua misericórdia e sua benignidade e convertermos ao seu amor. Abandonar as obras más, a discórdia que conduzem à morte, e a inveja. E continua: "Sejamos humildes de coração, evitando toda espécie de vaidade, soberba, insensatez e cólera, para cumprirmos o que está escrito. Pois, diz o Espírito Santo: Não se orgulhe o sábio em sua sabedoria, nem o forte com sua força, nem o rico em sua riqueza; mas quem se gloria, glorie-se no Senhor, procurando-o e praticando o direito e a justiça" (cf. Jr 9,22-23; 1Cor 1,31).

Finalmente, lembramo-nos das palavras do próprio Senhor Jesus: "Sede misericordiosos, a alcançareis misericórdia; perdoai, e sereis perdoados; como tratardes o próximo, do mesmo modo sereis tratados; daí, e vos será dado; não julgueis, e não sereis julgados; fazei o bem, e ele também vos será feito; com a medida com que medirdes, vos será medido" (Mt 5,7;6,14;7,1-2).

Resta-nos pedir: "dai- nos, Senhor, um espírito decidido", para colocarmos realmente em nossas vidas a sua advertência: "Quem quiser me seguir renuncie a si mesmo;e, tomando sua cruz acompanhe meus passos".

Rezemos: Concedei-nos, Senhor, viver mais plenamente o mistério da Igreja e a buscar, em todas as coisas, o vosso Reino, dirigindo nossos passos no caminho da justiça, da verdade e da paz. Amém.

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo emérito de Juiz de Fora, MG. Cursou filosofia e teologia no Seminário Maior São José em Mariana, MG. Governou a arquidiocese de Juiz de Fora entre 2001 e 2009.

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